17 abril 2006

O Valor Do Querer

muito boa gente que se interroga acerca das escolhas que poderia ter feito e até que ponto isso lhes tiraria o sono.

Eu, bicho nativo das sombras e trincheiras do ser, interrogo-me mais acerca da forma com que se instilou tal têmpera no ego, e se o malhar que a gerou foi a frio ou a quente, sob a luz da Lua ou do fogo da paixão.

Mas como não concebo que se possa saber o que é uma consciência sem termos cometido erros, não insisto, e relembro apenas que a escolha e a consequência são duas faces da moeda da vida, que tanta gente parece desbaratar sem sentido.

As escolhas poupam-se, demoram-se, estimam-se, tanto mais quanto mais importantes sejam.

Querer não é poder, nunca foi. Querer é escolher.

26 março 2006

Quando Não Se Pode

...sequer pensar em confessar aquilo que gostaríamos de partilhar com alguém em quem temos expectativa de poder vir a confiar ainda mais, somos nós que somos desconfiados, ou apenas culpados de não nos conseguirmos obrigar a dizer o que devia ser óbvio?

23 março 2006

Pessoas Eventualmente Tristes

Passada uma certa idade os juízos que fazemos sobre as pessoas são sempre demasiado tendenciosos para serem realmente fiáveis, mas há padrões que se repetem de pessoa em pessoa e por vezes as conclusões são inescapáveis.

Há um tipo de pessoas tristes que me faz uma tremenda impressão, não por terem qualquer tipo de estigma, mas sim por ser muito difícil perceber se são felizes de todo - se vivem nos intervalos daquilo que lhes acontece, ou se assumem que aquilo é a sua vida e continuam estoicamente a avançar, passo a passo, debulhando a palha que a vida lhes serve como se trigo fosse.

Metem-me alguma impressão, sim, não pela sua demonstrada força de vontade mas mais pela forma como se isolam, se dissociam (literalmente) dos outros, totalmente absortas nas tarefas mecânicas que vão executando até não poderem mais.

Não sei se não percebem que estão tristes, ou sequer se se apercebem que o parecem, mas nunca soube como lhes chegar e perceber se, afinal de contas, há algo mais para elas (e nelas) do que aquilo que deixam transparecer.

O Divino Complicado

Nunca fui pessoa para simplificar as coisas, pelo menos não naquele sentido de tirar o sumo das situações e transformá-lo numa essência límpida e cristalina, daquelas que se usam para fazer perfumes, alinhadas num regimento de garrafinhas, milhares e milhares, ali à disposição de quem compõe o bouquet de odores que depois nos vendem, envolto em corantes, vidro e publicidade, normalmente à custa de uma rapariga anoréxica que nunca passou uma semana inteira sem se preocupar com a aparência.

Já houve tempos em que invejei outros animais destes pastos de letras e searas de escrita pela facilidade com que me faziam cheirar o que lhes ia na alma, mas eventualmente consegui perceber que não era necessariamente eu que não era capaz de simplificar as coisas - tudo se resumia (e provavelmente ainda se resume) a uma certa tendência que todos nós temos para querer acreditar que, mais do que as coisas serem complicadas, o encadear delas faz sentido, e irmos paulatinamente compondo verdadeiras sinfonias de complicações menores nessa demanda.

E fazem sentido, claro, eventualmente - com tendência para o infinito, entroncando nós aqui nas habituais discussões do etéreo e do cósmico, do religioso e do que se convencionou chamar pagão, e que não são para aqui chamadas, pelo menos para já.

22 março 2006

Como Gastar Pinhões

Eu nunca liguei muito a ministros, e sempre invejei fosse quem fosse que se desse ao trabalho de saber, sequer, quem é que se lembrou de decidir fosse o que fosse, por mais (i)rrelevante ou desconhecido que fosse.

Mas desde que me conheço que sinto o cheiro de pinheiro assado durante o verão, e me pergunto se queremos ser um país a sério ou o pátio da Europa.

Sim, porque por este andar, e se só se gasta pouco mais do que uma mão-cheia de pinhões para protegere a floresta, os Europeus podem vir cá apreciar o sol, a cerveja e o mar, mas da floresta só vêem o carvão para o churrasco...

21 março 2006

Animal Farm

A culpa disto, claro, é da Cabra.

Tinha de ser, não por filiação ou por tentar desviar a culpa, mas pura e simplesmente porque há coisas que estão nos genes e, mesmo provindo de famílias diferentes - com pelagem totalmente alheia, note-se, a minha é lisa e a dela frisada - há um impulso inato em andar às marradas com a vida a que eu não me podia furtar.

Venha ela, a vida, essa desalmada, que eu lhe mostro.